As liberdades e os limites ao livre-arbítrio

Livre Arbítrio
Os limites da liberdade são o que dão sentido ao conceito

Schopenhauer escreveu em seu Ensaio sobre o livre arbítrioo seguinte sobre a liberdade:

“Considerando cautelosamente, este conceito [da liberdade] é negativo. Compreendemos que seja simplesmente a ausência de tudo o que impede e obstrui; entretanto, o que impede e obstrui deve ser algo positivo. No tocante à possível natureza desse algo que impede, o conceito tem três diferentes subespécies, nomeadas como liberdades física, intelectual e moral.

Ao discorrer sobre os três tipos de liberdade, como a liberdade de ir e vir, a liberdade do intelecto e a liberdade moral, Schopenhauer encontra, afinal quais são os limites de nossa liberdade.

A liberdade física é, afinal, limitada a nossos recursos. Não temos asas, o que certamente nos impede de voar por nós mesmos, limitando a nossa capacidade de voar às condições das companhias aéreas, ou à existência de um jato particular. Podemos ir e vir livremente nas ruas de um país democrático a qualquer momento. Mas estaremos limitados às nossas opções de transporte e quanto aos recursos existentes para uma movimentação maior.

A liberdade intelectual, por sua vez, é limitada em relação ao conhecimento pré-existente. Como pode alguém conjecturar se todos os pontos de uma esfera podem ser transcritos num plano sem saber o que é esfera ou o que é plano? Wittgenstein já deixava claro ao dizer que “os limites de minha linguagem são os limites do meu mundo”. Afinal o que pode compreender intelectualmente das coisas alguém que desconhece as leis da física, os postulados filosóficos ou a legislação vigente? A ignorância é, portanto, uma forma de escravidão. E ao ser reforçada por ideólogos radicais, em geral os de extrema esquerda, forma seres inábeis em opinar politicamente ou pessoalmente sobre qualquer assunto.

Como pode a humanidade compreender qualquer coisa quando a maioria do mundo ainda não consegue compreender um parágrafo de texto? A verdade é que não pode. Se há, portanto, tantas diferenças nas condições humanas, ela é fruto da ignorância. Porém ignorância é outro conceito negativo. Entende-se por ignorância a total falta de conhecimento. Dado que o conhecimento é bom e saber sobre diversos assuntos pode ser a diferença entre sobreviver ou morrer, jamais a ignorância deveria ser propagandeada como algo salutar. Não é. Muita gente morre pela simples ignorância de que se deve lavar as mãos o tempo todo. E é preciso reverter esse quadro compartilhando conhecimento e reduzindo a ignorância. Aumentando, assim, a liberdade intelectual.

O último tipo de liberdade descrito por Schopenhauer é a liberdade moral. E essa liberdade não deve ser compreendida como libertinagem. Até porque se há alguma moral, é porque existe a convivência. E a convivência precisa ser delimitada por algo que faça sentido.

Jordan Peterson, psicólogo canadense e autor do livro 12 rules for life, dá conta, logo no primeiro capítulo, sobre como teria sido quando Moisés recebeu os dez mandamentos e voltou para o seu grupo. Quando chegou, eles estavam adorando ídolos, dançando e vibrando como se não houvesse amanhã. Nesse momento ocorreria um díálogo similar a esse:

“Trago boas notícias… e tenho algumas más notícias” o legislador fala em voz alta para eles. “O que vocês querem primeiro?”

“As boas notícias”, os hedonistas respondem.

“Eu consegui que Ele reduzisse de quinze mandamentos para dez!”

“Aleluia!”, grita o povo desregrado. “E a ruim?”

“Adultério ainda está na lista”.

Então haverá regras sim, mas não muitas. (…) Afinal Deus não deu a Moisés “As Dez Sugestões”. Ele deu Mandamentos. Se eu sou um agente livre, minha primeira reação a um comando poderá ser que ninguém, nem mesmo Deus, dirá pra mim o que eu devo fazer, mesmo que seja bom para mim. Mas a história da idolatração também nos lembra que, sem regras, nós rapidamente nos tornamos escravos de nossas paixões — e não há nada libertador nisso.

Portanto verificamos que os limites, que são, afinais, positivos, formam a única liberdade que é possível para um ser que quer conviver bem com o próximo. Do contrário, rapidamente veríamos um acúmulo de assassinos, criminosos e psicopatas por toda parte. O fenômeno, porém, que vale a pena comentar, é justamente o fato dessa realidade estar tão diante de nossos olhos em países como o Brasil.

Isso ocorre porque o conceito de liberdade criado por radicais de extrema esquerda é algo parecido com o da criança birrenta que acha que pode tudo. Vende-se a ideia de que liberdade não é agir dentro de algumas regras importantes de convivência, mas que a própria convivência deve exigir uma total disponibilidade de todos para fazer qualquer coisa.

O objetivo final, ainda que não esteja muito claro, é tornar as pessoas em escravas dos seus próprios prazeres, tornando-as incapazes de tomar decisões das mais simples, porém com grande facilidade para decidir pelo que dá prazer imediato.

Para libertar-se dessa armadilha, é preciso reconhecer que a verdadeira liberdade não é a libertinagem. Mas sim uma que permita as liberdades físicas, intelectuais e morais de existirem num comum acordo de convivência. E que a liberdade possa ser restringida àqueles que simplesmente não aceitam regras e que querem, na verdade, que as suas regras prevaleçam sobre as regras dos demais.

Como reconhecer esse tipo de coisa vai do livre-arbítrio de cada indivíduo, esse artigo não tem a obrigação de convencer você a abandonar a sua vida hedonista ou a tornar-se um asceta. O objetivo é apenas conscientizar, por meio de ensinamentos tão importantes, como alguns agentes querem reduzir a sua liberdade oferecendo mais liberdade como uma armadilha para a tirania.

Alguma moral sempre deverá existir. Seja ela qual for para você, é importante que as suas regras não sejam diferentes demais das regras da maioria. É preciso também obedecer as leis, desde que justas, e continuar, de forma renitente, a buscar novas leis para decisões morais sempre que for necessário. Ou isso ou veremos, por exemplo, cada vez mais assassinatos de inocentes bebês, ou até mesmo o preconceito contra heterossexuais a partir de homossexuais. Se nada disso faz sentido para você, será muito melhor buscar uma liberdade que faça sentido. E ela é delimitada por um ponto dentro de um círculo onde você está. Os limites da sua circunferência será sempre você que definirá. E, certamente, você saberá aumentar ou diminuir o ângulo do compasso de acordo com as necessidades.

É claro que você não deve assassinar ninguém. Porém ninguém está livre de precisar matar alguém por legítima defesa. Existem diferenças morais entre legítima defesa e assassinato premeditado. Porém, até mesmo a assassinato premeditado de um serial killer pode ser, afinal, uma legítima defesa. A moralidade de uma morte tem todo o sentido num contexto realista como esse. E ignorar esses fatos é a mesma coisa que ignorar os limites de nossa própria linguagem. Ao desconhecer esse fato, muita gente não conseguem nem perceber o quanto há de ignorância em si mesmo. E, com isso, já estão entregando seu corpo, mente e alma para os tiranos de plantão.

Para livrar-se dessa sina terrível, cabe a você, portanto, tomar melhores decisões dentro do seu livre-arbítrio. Norteando-o com uma moral, você poderá exercer as liberdades intelectuais e físicas com muita tranquilidade. E dormirá excelentes noites de sono com muito menos preocupações do que os libertinos.

 

 

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