A democracia viciada e o doublespeak socialista

O vício é, afinal, o oposto da virtude. Quando não há opção clara, o vício torna-se o caminho pernicioso. É como se, de uma hora para outra, ficasse decidido dar voz à ironia no lugar da sensatez. Sórdida ideia que ocorre nas mentes desonestas — que se acreditam semi-honestas — e que só sabem viver se for na transgressão.

Combater os vícios é, afinal, tarefa dos que criam as masmorras. O estado existe, dentre outras coisas, para determinar quem deve ir para dentro desses muros. O pacto social com a autoridade estatal deixa de ser válido quando o estado cria instituições para deixar criminosos do lado de fora e coloca para dentro subalternos do crime, em vez dos mandantes.

Há, por exemplo, no Brasil, a sensação de que isso já ocorre. Com um superior tribunal federal minúsculo e criado de escolhidos a dedo por políticos, fica difícil questionar a própria política. Quando se vê que se recorre diretamente ao STF para tratar com ex-eleitos, percebe-se o risco que estamos fazendo ao criar uma casta especial de seres iluminados, que não devem se sujeitar ao mesmo julgamento do cidadão comum.

Criou-se uma casta na nação brasileira. Para isso, em 1988, juntaram-se membros do partido comunista com membros do partido do movimento democrático brasileiro. Nessa tentativa incipiente de chamar algo de democracia, deixaram ali plantadas as sementes do autoritarismo que logravam executar.

Hoje vemos, pasmos, o governo se utilizar de dinheiro público para fazer o que bem entende. Comprar a liberdade dos outros é oferecer a escravidão. Chega ao cúmulo de cobrar 72% de impostos em brinquedos, tirando, assim, a liberdade criativa das crianças, tomando para si o poder de controlar a sociedade por meio de sanha de regulações infinitas.

O pior crime da história mundial recente foi a subversão da palavra “democracia”. Por toda parte que se ouve essa palavra, ela se apresenta cada vez mais associada aos gênios superiores da engenharia social. No fundo é o mesmo vício do comunismo, o vício do controle. Esse mesmo vício que vem há tempos inventando novos significados para as palavras, reinventando ideias malignas e causando confusão por meio da dubiedade. Ou “doublespeak” como bem definiu George Orwell, também traduzido como “duplo sentido”.

Não saciados com os crimes básicos que cometem os “democratas”, incluindo aí o crime de expropriar o que é seu para o que eles bem entendem, some-se o fato de serem eles mesmos grandes ilusionistas. Não há nenhum governo democrata no mundo que não seja defensor de um estado gigante, à revelia do povo. Não há, entre esses, a tentativa de preservar a vida ou de melhorar a sociedade. Diluir a riqueza e aumentar o caos é uma forma incrível de dominação, que pode levar os “democratas” à tirania disfarçada.

O vício mais terrível da humanidade do século 21 é o de querer ser altruísta por meio de intermediários. Esta é uma constatação terrível, já que o altruísmo é algo desejável, mas sempre como atitude individual. Quando o altruísmo passa por dar dinheiro a um governo para que ele seja altruísta por mim, o perigo se instala. Pois quem cegamente defende esse tipo de altruísmo acaba esquecendo de que nem sempre os fins serão cumpridos da melhor forma possível. Até porque não há forma de distinguir corretamente quem merece ou não entrar em programas sociais. Portanto é uma ilusão acreditar que tais programas têm outra função que não deixar no poder os “sábios” que os instituíram.

Quem doa e acredita ser belo e moral a tentativa de diluir o altruísmo e terceirizá-lo acaba acreditando em contos de fadas, onde a real necessidade, de ótimos serviços públicos, é, subitamente, substituída por uma necessidade de saquear recursos de um lado para direcionar para outro. Ainda que esse outro lado seja obscuro e nada transparente. O resultado é a dominação do Brasil por países estrangeiros. Hoje o Brasil envia dinheiro do seu próprio povo para fora do país, sobretudo para governos que têm como políticos proto-ditaduras ou déspostas esclarecidos, todos eles sob a bandeira vermelha de sangue do socialismo.

Especialmente por Cuba, mas cada vez mais claro que Rússia e China têm papel nisso, o Brasil vai entregando os seus recursos naturais e o seu tesouro amarelo, diluindo o nosso losango da bandeira para a dominação internacional. Com essa sangria, os que atualmente dominam o país esperam substituir o verde, o amarelo, o azul e o branco pelo vermelho. Têm a perspectiva histórica de que, em outros lugares, na história, muita gente conseguiu ficar no poder por 50, 60 anos. Veja o PRI no México. Mais de 70 anos quase que sem sair do poder. Esse plano antigo já permeia, na América Latina, até mesmo as ideias dos que, conscientemente, não concordam com isso. É como se você, subitamente, discordasse da sua própria morte, ao mesmo tempo sugerindo que outros deveriam ser mortos. Eis a terrível ironia.

Tais comparações estão presentes em por toda parte. Você pode observar, claramente, pessoas que, num momento, reclamam de terem seus pertences roubados em assaltos ou furtos. No entanto essas mesmas pessoas concordam com que ricos paguem mais impostos, como se o simples fato de uma pessoa ter mais renda a tornasse a causa dos problemas, tendo, portanto, mais responsabilidade por tudo do que o resto das pessoas.

Tal ideologia, do imposto “progressivo”, é a grande bandeira do manifesto comunista de Marx. Infelizmente diversos governos “democráticos” do mundo todo já adotaram tais impostos. Isso ocorre porque o marxismo é, no fim, o vício mais tóxico da humanidade com tendências maquiavélicas: não basta conquistar o poder. É necessário, também, produzir a miséria, pois a miséria é mais controlável do que a fartura.

Chega ao cúmulo de, em países de regimes comunistas, cheios de carestia, terem lojas e supermercados secretos destinados a servir uma elite bem alimentada. Isso ocorre porque espera-se criar uma elite que se pensa superior do resto. Ao ser bem nutrida, com ótima saúde e acesso a tudo, torna-se, portanto, o “super-homem” de que falavam os textos de Marx e Engels, que só poderia surgir num estado comunista. De fato, é exatamente isso que ocorreria se a produção desses super-homens não fosse fruto do mesmo tipo de ilusionismo que socialistas se utilizam ao chamar o seu regime autoritário de “democracia”.

Cabe lembrar que a Grécia, berço da democracia e dona dessa palavra, adotou o socialismo há muitos anos. Como resultado, temos um país na zona do euro que demonstra resultados cada vez piores, numa economia cheia de isenções, subsídios, preços altos e impostos mais altos ainda. Tudo porque se acustumou a viver não-vivendo. Num país socialista, a ideia de produzir alguma coisa é algo exagerado, bastando, para estes, produzir um teatro e um puxasaquismo que possibilite a continuação de suas próprias mediocridades. Atenas viveu, por anos, sob a tirania de Péricles. O povo grego sempre foi e sempre será ignorante político, ainda que houvesse sábios em sua história antiga.

Cabe ao homem notável, ao indivíduo, desdobrar-se desse coletivismo quase que imbecil para partir para a sua própria jogada genial. Como no futebol brasileiro, em que a glória de alguns indivíduos sempre levaram à vitória as suas equipes, também nas consciências dos brasileiros o vício só será extirpado após uma boa dose de abstinência.

A abstinência de socialismo provoca, infelizmente, efeitos colaterais que podem levar a nação a se voltar como o socialismo como um amargo remédio. Trata-se de veneno disfarçado de medicina. Para evitar esse vício circular, é necessário uma construção de virtudes individuais cada vez mais separadas do Estado por todos nós.

Infelizmente não há outra forma que não educar nossos filhos. No fim, haverá sempre o receio de que educadores irão prover uma educação inapropriada para as nossas crianças. Sobretudo se os educadores seguem as cartilhas do mesmo estado socialista que acredita na dominação dos indivíduos por meio da contínua propaganda e da militância imbecilizante. Cabe aos pais dedicarem-se aos filhos para evitar que ideias diferentes das liberdades individuais possam ser incutidas. E, sobretudo, que se deve defender a república, e não a democracia, como forma de governo.

No Brasil, o PT, o PSDB, o PMDB e o PDT, todos adotam a democracia como bandeira. Não por acaso, todos eles são riquíssimos em simbologia autoritária, internacional e socialista. Democracia já virou sinônimo de socialismo. Portanto é mais do que necessário passarmos a defender a república, ou seja, um estado onde há poderes independentes, onde há controles e equilíbrios (checks and balances) dos poderes. E, sobretudo, onde não há foros privilegiados ou instituições mantenedoras de vícios ou de tentativas escusas de engenharia social. Censores, ditadores e autoridades acima da lei não devem existir mais.

Não é algo que deve ser pensado apenas para o próximo impeachment. Esse é um trabalho de 100 anos que levará muito tempo para podermos, na devida forma, cavar, definitivamente, os vícios nas masmorras das quais jamais deveriam ter saído. Sobretudo os vícios do altruísmo por meio do estado e o vício da tirania por meio do populismo. Com esses vícios, será difícil demais haver a virtude da liberdade no Brasil do século 21. Haveremos todos de lutar pela nossa liberdade.

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